Autor: Anthony Burgess
Editora: Aleph
Número de Páginas: 224
Gênero: Ficção inglesa
Alex é um garoto de dezesseis anos que vive em um apartamento com seus pais no Flatbloco, e que é um adolescente considerado
rebelde. Junto com seus amigos Georgie, Pete e Tosko, comete crimes, rouba,
bate em civis indefesos, participa de lutas de gangue, estupra e, em um
determinado momento da história, mata uma velha após invadir sua casa para furtar
alguns pertences.
Este assassinato acaba condenando-o a quatorze anos de
prisão. Pena decretada, Alex tenta dançar conforme a música para diminuir sua
pena, tentando demonstrar bom comportamento, para diminuir sua pena.
O plano de uma certa forma funciona, o protagonista
logo vira um dos queridos pelo padre da prisão, mas nada que realmente
ajudasse. É então que ele fica sabendo de um novo plano de reabilitação para
detentos que estaria sendo testado pelo governo.
E o melhor de tudo? Prometia liberdade em quinze dias!
Alex logo tenta conversar com o padre sobre isto, este conta algumas coisas sobre o que sabia
sobre o novo método, porém afirma não concordar com o que seria uma espécie de
bondade mecânica.
Deste momento em diante, pouco fica sabendo a mais o assunto.
Até que certo dia, um novo preso é admitido na cela, e após uma confusão, ele é
morto.
O governador que estava fazendo uma visita á cadeia vê
a situação, conversa com Alex, e depois de um tempo, decide usá-lo para testar
o novo método.
O que mal sabia o rapaz, é que aqueles seriam os
quinze dias mais longos de sua vida, regados a muitos filmes violentos,
remédios e enjôos, que no fim, acabariam por deixá-lo como uma ovelhinha perto
da violência.
A mesma ultraviolência que rodeava a sua vida
até então, transformou-se em um palco de sofrimento, onde os então agredidos,
puderam ter seu ajuste de contas com o adolescente selvagem Alex.
Possuidor de tamanha complexidade em tão poucas
páginas, não é á toa que Laranja mecânica é um clássico da literatura inglesa.
O livro tem a capacidade de prender o leitor com facilidade, lendo as histórias
que são contadas pelo próprio Alex em um tom, íntimo, como se estivesse
conversando com um amigo, e tão pronto, tendo o efeito de fazer quem lê se
sentir um de seus druguis.
É com este tom amigável, que o protagonista começa a
contar sua história, e junto com ela um primeiro choque: a linguagem. Um
universo de gírias, uma mistura de inglês Elizabetano com palavras em russo e
repetições silábicas, que além de causar um impacto é essencial para enriquecer
a história, e um de seus melhores pontos.
Afinal Alex é um adolescente membro de um gangue, que
como todas possui toda um vocabulário diferenciado, cheio de gírias, e algo que
os adultos achavam de outro mundo quando ouviam.
Ou seja, a diferença entra as idades, é marcada por um
linguajar diferente, este mesmo que reflete a incompreensão entre as novas e velhas gerações. Os adultos que não
compreendem o universo dos adolescentes e suas gangues, que apesar da história
se passar em um mundo futurista, também existiam, e eram um dos problemas da
época em que foi escrito.
Outro ponto muito evidente, é a questão do bem maior
versus a liberdade individual. Seria certo para a segurança da maioria,
submeter um jovem a um tratamento desumano que lhe deixaria incapaz de reagir
até para defender á si mesmo? Seria aceitável permitir que o governo
interferisse na liberdade do indivíduo, em prol do bem maior? Seria uma laranja mecânica a solução para a
violência?
A resposta a estas perguntas surge no final do livro,
logo após o sofrimento do jovem com a realidade e a consequência de seus atos,
recebendo tudo que fez de errado de volta,
fazendo-o refletir sobre tudo o
que fez.
E apesar de todo o ódio que recebeu de volta de suas
vítimas, o leitor vê-se em um dilema: o de não conseguir odiar o jovem, apesar
de tudo o que ele fez. Como não gostar de um adolescente problemático que ouve
Beethoven, e que é incompreendido por um mundo que sempre tenta arrumar uma
causa para a violência? Como não simpatizar com o Alex descobrindo as
dificuldades do crescimento?
Além disso, há também um caráter de crescimento na
obra, mostrando a selvageria descontrolada de Alex como uma das atitudes dos
jovens em crescimento, e como algo inevitável, pois é uma fase da vida, quando
se toma atitudes sem pensar nas consequências.
E para
representar isto, não é a toa que o autor dividiu o livro em vinte e um
capítulos, sendo que no último o protagonista começa a entrar na idade adulta,
representada pelo número do capítulo, que seria a idade do entendimento, da
passagem para a vida adulta.
Monstrando mais uma vez que autor bom, se prende aos
mínimos detalhes. E tudo é friamente calculado, para o deleite do leitor.
A edição de 2004, publicada pela Editora Aleph, ainda
possui um glossário de nadsat (linguagem usada pelo Alex), notas sobre a
tradução e uma contextualização da obra.
Uma obra mais do que recomendadíssima, para amantes de
distopias, com boas doses de violência e críticas complexas contidas em tão
poucas páginas .Um livro o qual sempre
se achará algo de novo a cada releitura, e persistirá por muitos séculos.
O jovem Alex |
Sua adaptação para o cinema de 1971 feita pelo renomado diretor Stanley Kubrick também é bem fiel ao livro, e garante grandes emoções.