segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Resenha - Laranja Mecânica



Título:Laranja mecânica

Autor: Anthony Burgess
Editora:  Aleph
Número de Páginas: 224
Gênero: Ficção inglesa

 


 Alex é um garoto de dezesseis anos que vive em um apartamento com seus pais no Flatbloco, e que é um adolescente considerado rebelde. Junto com seus amigos Georgie, Pete e Tosko, comete crimes, rouba, bate em civis indefesos, participa de lutas de gangue, estupra e, em um determinado momento da história, mata uma velha após invadir sua casa para furtar alguns pertences.
   Este assassinato acaba condenando-o a quatorze anos de prisão. Pena decretada, Alex tenta dançar conforme a música para diminuir sua pena, tentando demonstrar bom comportamento, para diminuir sua pena.
   O plano de uma certa forma funciona, o protagonista logo vira um dos queridos pelo padre da prisão, mas nada que realmente ajudasse. É então que ele fica sabendo de um novo plano de reabilitação para detentos que estaria sendo testado pelo governo.
   E o melhor de tudo? Prometia liberdade em quinze dias!
   Alex logo tenta conversar com o padre sobre isto,  este conta algumas coisas sobre o que sabia sobre o novo método, porém afirma não concordar com o que seria uma espécie de bondade mecânica.
   Deste momento em diante, pouco fica sabendo a mais o assunto. Até que certo dia, um novo preso é admitido na cela, e após uma confusão, ele é morto.
   O governador que estava fazendo uma visita á cadeia vê a situação, conversa com Alex, e depois de um tempo, decide usá-lo para testar o novo método.
   O que mal sabia o rapaz, é que aqueles seriam os quinze dias mais longos de sua vida, regados a muitos filmes violentos, remédios e enjôos, que no fim, acabariam por deixá-lo como uma ovelhinha perto da violência.
   A   mesma ultraviolência que rodeava a sua vida até então, transformou-se em um palco de sofrimento, onde os então agredidos, puderam ter seu ajuste de contas com o adolescente selvagem Alex.
   Possuidor de tamanha complexidade em tão poucas páginas, não é á toa que Laranja mecânica é um clássico da literatura inglesa. O livro tem a capacidade de prender o leitor com facilidade, lendo as histórias que são contadas pelo próprio Alex em um tom, íntimo, como se estivesse conversando com um amigo, e tão pronto, tendo o efeito de fazer quem lê se sentir um de seus druguis.
   É com este tom amigável, que o protagonista começa a contar sua história, e junto com ela um primeiro choque: a linguagem. Um universo de gírias, uma mistura de inglês Elizabetano com palavras em russo e repetições silábicas, que além de causar um impacto é essencial para enriquecer a história, e um de seus melhores pontos.
   Afinal Alex é um adolescente membro de um gangue, que como todas possui toda um vocabulário diferenciado, cheio de gírias, e algo que os adultos achavam de outro mundo quando ouviam.
   Ou seja, a diferença entra as idades, é marcada por um linguajar diferente, este mesmo que reflete a incompreensão entre as  novas e velhas gerações. Os adultos que não compreendem o universo dos adolescentes e suas gangues, que apesar da história se passar em um mundo futurista, também existiam, e eram um dos problemas da época em que foi escrito.
  Outro ponto muito evidente, é a questão do bem maior versus a liberdade individual. Seria certo para a segurança da maioria, submeter um jovem a um tratamento desumano que lhe deixaria incapaz de reagir até para defender á si mesmo? Seria aceitável permitir que o governo interferisse na liberdade do indivíduo, em prol do bem maior?  Seria uma laranja mecânica a solução para a violência?
  A resposta a estas perguntas surge no final do livro, logo após o sofrimento do jovem com a realidade e a consequência de seus atos, recebendo tudo que fez de errado de volta,  fazendo-o  refletir sobre tudo o que fez.
   E apesar de todo o ódio que recebeu de volta de suas vítimas, o leitor vê-se em um dilema: o de não conseguir odiar o jovem, apesar de tudo o que ele fez. Como não gostar de um adolescente problemático que ouve Beethoven, e que é incompreendido por um mundo que sempre tenta arrumar uma causa para a violência? Como não simpatizar com o Alex descobrindo as dificuldades do crescimento?
   Além disso, há também um caráter de crescimento na obra, mostrando a selvageria descontrolada de Alex como uma das atitudes dos jovens em crescimento, e como algo inevitável, pois é uma fase da vida, quando se toma atitudes sem pensar nas consequências.
    E para representar isto, não é a toa que o autor dividiu o livro em vinte e um capítulos, sendo que no último o protagonista começa a entrar na idade adulta, representada pelo número do capítulo, que seria a idade do entendimento, da passagem para a vida adulta.
   Monstrando mais uma vez que autor bom, se prende aos mínimos detalhes. E tudo é friamente calculado, para o deleite do leitor.
   A edição de 2004, publicada pela Editora Aleph, ainda possui um glossário de nadsat (linguagem usada pelo Alex), notas sobre a tradução e uma contextualização da obra.
Uma obra mais do que recomendadíssima, para amantes de distopias, com boas doses de violência e críticas complexas contidas em tão poucas páginas .Um livro o qual  sempre se achará algo de novo a cada releitura, e persistirá por muitos séculos.


 
O jovem Alex 

Sua adaptação para o cinema de 1971 feita pelo renomado diretor Stanley Kubrick também é bem fiel ao livro, e garante grandes emoções. 

 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Resenha - O clã dos magos

Primeiro volume da trilogia do Mago Negro

Título: O Clã Dos Magos
Autora: Trudi Canavan
Editora:  Novo Conceito
Número de Páginas: 448
Gênero: Ficção de fantasia

Outros livros da série:

A aprendiz (volume 2)
O lorde supremo (volume 3)

Avaliação: 7 

Todos os anos em Imardin ocorre o evento de Purificação. O clã dos magos, que recebe ordens do rei, durante este dia expulsa vários moradores, que não são de casas ou famílias de prestígio sócio-econômico,  de suas casas na cidade e deixa-os para tentar a sorte fora das muralhas que protegem a cidade.
O que era uma medida tomada pelo rei para evitar o caos e os roubos dentro das muralhas com a chegada do inverno e suas consequências, não foi bem recebido por aqueles que foram despejados, e como o esperado gerou uma reação.
Durante o evento, enquanto um grupo de magos se concentrava em um canto, protegidos por uma barreira mágica, vários cidadãos e favelados (pessoas que viviam do lado exterior em péssimas condições, e maior parte da população)  protestavam jogando pedras e o que fosse possível para tentar mostrar sua indignação com a medida tomada.
Sonea , que acabara de ser despejada junto com seus tios, era uma dessas pessoas. Em um momento de raiva, pega uma pedra, e com todo sua fúria pelo descaso dos magos com o povo, joga-a de encontro com a barreira.
E esta acerta um dos magos.
Os membros do clã presentes sentem-se confusos , pois nada poderia passar pelo escudo mágico, a não ser que tivesse magia nisto. E para usá-la era necessário ser um mago.
E assim a história começa.  Um livro que não apenas aborda um mundo fictício, mas que vai além, extendendo seus horizontes para falar de temas presentes nos dias atuais como a desigualdade social e o preconceito gerado por ela.
O livro é divido em duas partes.
A primeira é dedicada a relatar a fuga de Sonea para não ser pega pelos magos, com medo de ser morta, quando na verdade eles decidem procurá-la para orientá-la com relação a seus poderes e a ensinar o controle dos mesmos, que se não fossem controlados logo, poderiam acabar destruindo-a.
 E a segunda ocorre logo após  sua captura pelo clã, onde ela passa por um tempo aprendendo a domar sua magia. Neste tempo, enquanto decide sobre a oferta de aderir ao clã, ela conhece Rothen, um mago que aos poucos a ajudará e fará sua concepção sobre magia mudar.
Este primeiro volume da trilogia do Mago Negro, é um livro introdutório, que mostra as relações entre classes mais altas e as favelas, e o ponto de vista da protagonista, que era uma das que sentia a estigmatização na pele, além de também abordar sobre a política dentro e fora do clã, e o papel que o mesmo desempenhava.
Guardando grande parte da ação,  para os  próximos volumes. Nele há cenas de luta também, mas o grande foco não está nelas.
Apesar da edição brasileira, de  2012, conter um número grande de erros de português, alguns que poderiam atrapalhar a compreensão do texto, isto não é algo que impeça de se saborear o livro, e  emocionar-se com as personagens, as quais são cativantes, cada uma de seu jeito.
Entre elas, várias chamam a atenção. Como não gostar de uma protagonista forte e decidida, muitas vezes desconfiada, que tem orgulho de suas origens e quer ajudar seu povo? Como não achar fofo seu amigo, que tenta protegê-la a todo custo, mesmo podendo colocar a si mesmo em risco? Como não sentir simpatia por um mago engraçado e meio desajeitado como o Dannyl? Como não admirar um mago aplicado e dedicado a seus aprendizes, e exemplar que é o Rothen? Como não odiar Fergun e seu desprezo pelas classes mais baixas?
E como não ficar intrigado com um lorde supremo todo misterioso?
E o mais importante: Como não ler o próximo volume?